quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Mais Médicos: médicos e médicos



Nossos amigos médicos já tiveram a oportunidade de se manifestar aqui no Blog quando, há quase dois anos, versamos sobre o aumento de quase 3 mil novos “postos de estudo” – vagas – nos cursos de medicina de todo Brasil (http://quemquerciencia.blogspot.com.br/2012/06/v-behaviorurldefaultvmlo.html)
Quase tivemos nossas cabeças dependuradas em praça pública quando dissemos que o médico era um tecnólogo, e que não poderia mais ficar esperando pacientes em seus consultórios com ar condicionado, prontos pra receitar um medicamento da empresa X, que lhe oferece alguns “incentivos”; ou que a lei inexorável de oferta-procura se incumbiria de acabar com a insensatez de observar que prefeituras do interior do Brasil se esforçavam pra contratar médicos por 50 salários mínimos. Com a formação anual de 3 mil dessas “peças de reposição”, logo-logo haveria tecnólogos nesses locais ganhando 15 salários mínimos (puxa, que afronta...)
Pois muito bem. Passado esse tempo muita coisa aconteceu. Como se não bastasse esse aumento na formação de novos profissionais aqui no Brasil, o governo ainda tomou a decisão de incentivar a importação de profissionais do exterior pra sanar o déficit de, segundo cálculos do governo há época, cerca de 10 mil homens de branco.
Existem algumas questões nesse processo que merecem atenção. Pense comigo: qual o perfil profissional desses médicos estrangeiros que aportam em terras tupiniquins? Cubanos, em sua maioria. Nada mais lógico, diria nosso intelectual maior, Diogo Mainardi... troca de favores entre governos da ultrapassada esquerda. Será que é só isso? O que tem os médicos cubanos que os dos EUA, da China, do Chile, do Peru não tem?
Pra responder a essa pergunta, precisamos de um parênteses histórico em concepções de medicina específicos. Médico, como já dissemos no outro post, era até o século XIX um curandeiro melhorado. Só a partir dos oitocentos eles começaram a ganhar o status de salvador das pátrias que observamos hoje.
Cara, eles podiam agora curar doenças milenares com medicamentos simples, ou mesmo ações – ou, para delírio dos mais exaltados: técnicas – simples. A luz da ciência finalmente chegava para iluminar o caminho da humanidade. O laboratório, os micro-organismos passaram a ser mais importantes do que os organismos. Não por coincidência surgiria exatamente no século XIX uma corrente científica que buscava problematizar o caráter social da medicina na Europa: a assim denominada “Medicina Social”. Um de seus principais ícones, o alemão Rudolf Virchow, chegou a dizer que a medicina era uma ciência tão social quanto a história ou a filosofia.
Os micro-organismos deviam continuar sendo estudados. Afinal eram eles os causadores das doenças. Mas não deveríamos nos esquecer de que as doenças foram causadas por fatores sociais. Por condições de vida, de salubridade, de alimentação, etc.
Algum tempo depois surgiria a apropriação norte-americana para o problema. O livro intitulado “Medical Education in the United States and Canada” de Abraham Flexner foi publicado em 1910. Nascia uma concepção de medicina que todos conhecemos hoje: centrada no hospital, no doente, na doença. Em linhas gerais, era um estandarte dos amantes dos micro-organismos. Microscópios ao alto, bradavam! Concebia-se a indústria da medicina. Medicamentos, máquinas, técnicas cada vez mais rebuscadas em busca das verdades escondidas nos micro-organismos. Pelo bem da humanidade.
Essas duas concepções de medicina se tornaram concepções pedagógicas de formação do profissional médico ao longo do século XX. Questões políticas das mais complexas fizeram com que o globo terrestre se dividisse entre esses dois paradigmas. O mundo capitalista ocidental, claro, pendeu para o lado Yanke-Industrial. O socialista para o Europeu-Social.
Não se trata aqui de afirmar que um é melhor do que o outro. Apenas de constatar que os médicos cubanos são formados sob a égide da Medicina Social. Todo esse preâmbulo pra dizer que nem de longe pode ser considerada aleatória a atitude do governo brasileiro de trazer quase 6 mil médicos de Cuba. Se ela é certa ou errada é outra questão.
Certa ou errada, ela parte de preceitos teóricos (que no fim das contas também são subjetivos). Parte do princípio de que para o interior do Pará não pode ir um médico que só consiga cuidar de pacientes se puder fazer ressonâncias magnéticas, tomografias, etc... Pra lá tem que ir um médico que consiga compreender socialmente o doente.
Queridos discípulos de Hipócrates. Não estamos dizendo que vocês são insensíveis, ou que não foram capazes de aprender isso – nem que seja na marra. A realidade de um país continental e historicamente corrupto levou a meia-dúzia de dois ou três que até então havia se arriscado em condições de tamanha insalubridade à experimentar coisas que até Deus duvida. O que está em discussão aqui é a atitude do governo brasileiro de buscar mesclar esses dois modelos de medicina. Esses dois perfis profissionais.
E uma coisa precisa ser dita: não somos os únicos a passar por esse processo. Vamos, chame seu amigo que vive no interior da França pelo Skype agora. Ele vai lhe contar como é ser tratado por médicos poloneses, e você vai perceber que há muitas semelhanças entre eles e os discípulos de Fidel. França e Polônia não são governados por esquerdistas lunáticos – by Diogo Mainardi.
Não! Não é necessário, em nome da retórica de “oferecer Infra-estrutura”, comprar 200 aparelhos de Ressonância magnética e envia-los ao interior do Pará. Por vários motivos. Uma que se são 200, enquanto vc lê essas três palavras já são 170, 160, 130 aparelhos... Outra que por trás dessa atitude estão verdadeiros mafiosos que mantém uma das indústrias mais brutais e sanguinárias: a indústria da morte. E por aí vai... Precisamos de medicamentos, de aparelhos de ressonância magnética. Mas também precisamos de médicos que sejam capazes de fazer, de fato, a tão famigerada "Atenção Básica"... de mandar para os hospitais, de fato, os pacientes que deles precisem. O que vemos hoje, em grande medida, é um sistema - como quase tudo em nosso país copiado - que prevê essa atenção básica, mas que, em função de uma formação profissional desconectada da realidade de nosso país, não consegue exercer seu papel.
Precisamos de nossos queridos tecnólogos unidos. Há espaço para essas e todas as outras concepções de medicina que delas surgiram ao longo do último século. Há espaço para todo bom profissional. Em todas as áreas. Se vc é um bom médico-tecnólogo-industrial, vc vai conseguir ter uma vida digna. Se vc foi um médico-tecnólogo-social também. Quem vai dizer isso é o mercado de trabalho. Mercado este que rege todas as outras profissões. Welcome to the Jungle! 

      Sim, nós somos chacrinhas! Viemos pra confundir, não pra explicar! Não existe solução mágica em se tratando de saúde-pública. Sobretudo em um país com características histórico-geográfico-sociais tão singulares como o nosso. Existiram tentativas louváveis. O próprio SUS é louvável. Ah, se não tivéssemos o DNA da corrupção em nossos envoltórios celulares... E a postura do governo brasileiro desde 2010 nesse respeito pode ser muita coisa – inclusive certa ou errada – menos infundada. Discuta conosco, seja vc um tecnólogo ou não! 


22 comentários:

  1. Gostei demais! parabéns pelo blog! Leio sempre o que vcs escrevem! Escrevam mais!

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  2. Olá! Antes de tudo; desço de meu “pedestal médico” ao solo para conversarmos; pedestal ao qual não nego a existência e que é variável, individualmente, tão grande quanto cada médico e a sociedade o dimensiona. Particularmente, nunca concordei com “pedestais médicos” tão grandes; principalmente depois que me tornei médico. Certo ou errado, esse pedestal médico vem caindo muito, com ou sem a anuência de cada médico. Mas, independente do tamanho que seja o meu “pedestal médico”, desço ao solo; não sei se estão em pedestais maiores ou menores que o meu, mas peço que os autores do texto também desçam de seus pedestais ao solo; para que possamos conversar como iguais.
    Sou médico, sou um tecnólogo, boa definição; da qual concordo. Tecnólogo que já trabalhou em PSF, já trabalhou em cidade grande e cidades pequenas; possui consultório (convênios e privados), atende pelo SUS; já esteve nos dois lados do “SUS-Fácil”, na condição de quem tenta transferir um paciente grave ao nível terciário e não consegue e na condição de quem está no nível terciário e se esforça muito para atender uma demanda que a unidade não suporta; digo isto não como um “mérito”, pois assim não considero; digo isso para dizer que, como tecnólogo, tenho condições de falar sobre o assunto. Eu não li ou estudei isso, eu vivi e vivo isso, sinto na pelo; sei o que é trabalhar mais de 36 horas quase que ininterruptas em um ambiente onde atendia uma média não inferior a 5 pacientes por hora (graves ou não) e ser fuzilado pelo olhar de um paciente quando parava para beber um copo de água. É como tecnólogo e cidadão que tentarei expor o que penso.

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  3. Eu não participei da tentativa de “pendurar a cabeça de vocês em praça pública”; também não julguei que houve uma tentativa disso nos demais comentários que li. Mas, por vezes, creio que a cabeça que a maioria deseja pendurar em praça pública é a do médico; “o monstro desumano e capitalista”. Existem maus médicos, existem muitos médicos que deveriam enxergar melhor a medicina social; mas não acho justo ignorarem as dificuldades da profissão médica e generalizarem as definições. Quanto ao capitalismo; não é nessa sociedade que nos inserimos? Tem alguém aqui, prioritariamente, trabalhando de forma gratuita? É inverdade que, na procura de uma remuneração mais digna e justa há muitos profissionais (não estou falando apenas de médicos) que prestam concursos ou procuram emprego, por vezes longe de onde gostariam de estar? Comentários como: “logo-logo haveria tecnólogos nesses locais ganhando 15 salários mínimos (puxa, que afronta...)” me intriga e de certa forma, me afronta, sim. Sem falar que é muito comum uma Prefeitura oferecer 50 SM, atrair o médico, pagar o combinado nos dois primeiros meses, atrasar os três seguintes e ir diminuindo até os 15 SM ou menos; quem espanta o médico da cidade agindo assim? Mas vamos considerar somente as prefeituras honestas. É claro, se alguém ler “Prefeitura X oferece salário de R$ 10.860,00 (15 SM) e continuam sem médicos” poderia pensar que isto é um absurdo; se eu não conhecesse a profissão, também julgaria. Mas o que estas prefeituras exigem do médico? Vou considerar um paraíso utópico, onde o médico só trabalhe em dias úteis (22/mês), em horário comercial: Uma coisa é exigir que atendam uma média diária de 20 pacientes (R$ 24,68 por consulta), outra coisa é exigir que atendam uma média de 60 pacientes (R$ 8,23 por consulta). O autor julga uma remuneração assim justa? Se eu trabalhasse 60 horas semanais (muito acima das 44 horas da maioria dos trabalhadores) eu teria que atender uma média de 5 pacientes/hora; isso significa que em uma jornada de trabalho diária de 12 horas; se eu não precisasse comer, beber ou ir ao banheiro (acredite, muitas vezes um médico não pode se dar esse “luxo”), cada paciente ganharia 12 minutos para sua consulta. E aqui não estou considerando o atendimento ao paciente grave ou com necessidade de procedimentos; pois isso poderia reduzir o tempo de atendimento para a maioria dos pacientes para 10, 8, 6 minutos.... Acha isso justo com o paciente? Temos que analisar vários lados, não é só o médico o “monstro” da história não, prefeituras que agem assim também devem mudar; a sociedade deve mudar para o que os autores discutem possa ser praticável. Se, ainda assim, há quem considere R$ 8,23 ou R$ 24,68 por consulta um valor justo; pergunto quanto pagam por um corte de cabelo! Não estou desmerecendo profissão alguma; não haveria civilização se não houvesse uma diversidade enorme de profissões; acho que a grande maioria das profissões é desvalorizada no Brasil, o que, relativamente e falsamente possa tornar a profissão de médico vista como “valorizada”; não devemos desvalorizar o médico; devemos valorizar melhor as demais profissões. Ok, a consulta ainda está em um valor justo? Se alguém julga que sim, pergunto: Dá o mesmo peso ao erro de um cabeleireiro que ao erro de um médico? Pois se estamos falando em equidade, ela abrange tanto valorizar as habilidades de cada profissional quanto pesar seus erros, enquanto humanos, com o mesmo peso; se não seria dois pesos e duas medidas. Quem defende a equidade e dá o mesmo peso ao erro de todas profissões; eu não concordo, mas respeito quando defendem que uma remuneração dessas é justas. Quem não pesa os erros da mesma forma para todas profissões, não está defendendo uma equidade.

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  4. Uma informação: a medicina é uma das profissões com o maior índice de suicídios, portanto, não julguem que é uma profissão fácil; que é fácil para o médico mudar de foco ou modo de atuação e conduta sem o devido apoio e meios para isso; não estou falando apenas de remuneração. Outra informação, uma grande parte dos médicos, não possui consultório. E nem todos que possuem um, tem ar condicionado, rs... Dos que possuem consultório, a grande maioria tem sua renda derivada de empregos públicos, privados e seus consultórios particulares, de forma quase paritária; e acreditem a maior parte do rendimento de um consultório particular vem de convênios que não remuneram tão bem quanto pensam; são raros os consultórios que o movimento particular supera 20% de sua demanda. Quanto a prescrever medicação da empresa “X” que oferece o incentivo “Y” ao médico; muitos médicos não possuem esta atitude; aliás, na grande maioria das vezes eu prescrevo o nome genérico do medicamento e há reclamação de representantes de laboratório de que eu só os recebo para visita ao término de minhas consultas; julgo minha atitude indelicada mais justa, uma vez que tenho que atender quem tem mais prioridade primeiro, quem está doente e agendou a consulta comigo. Portanto, não generalizem, ok? Existe sim, a por assim definida “indústria da morte”. Há quem prescreva por favores, há quem solicite exames em demasia por motivo financeiro, há quem indique cirurgias em momento não oportuno, antes de tentar outras medidas conservadoras, por dinheiro. Há quem lucre com o uso exclusivo de “determinado material”. Isso deve ser policiado e corrigido, sim. Mas, insisto, não generalizem.
    Quanto ao programa “Mais Médicos”, ele pode até trazer a socialização da medicina; mas não foi este o objetivo inicial e nem atual do governo. Foi uma medida “populista” e mal calculada e por que não, eleitoreira. Possuímos um dos maiores índices de médico/habitante do mundo! Infelizmente, não distribuídos de forma mais adequada. Se o governo criasse planos de carreira nos PSF e plantões para as zonas carentes em médicos, como faz para algumas outras profissões, isso levaria muitos médicos para esses lugares. E não estou falando em mega-salários. Uma coisa é oferecer um cargo de 15 SM à base de contrato, muito das vezes verbais; onde o médico não tem garantias. Outra é oferecer um concurso onde vc iniciaria com 10 SM que seja e com o tempo, empenho e permanência no local, sua renda vai aumentando até 15 ou 20 SM no final de sua carreira. Acreditem, haveria até concorrência nesses concursos e a concorrência é bem-vinda, pois pode “peneirar” os melhores ou mais adequados profissionais para o local, afinal, a população merece, não? Mas o que é mais fácil? Importar 10.000 médicos com salários, possivelmente sem indexador algum para correção salarial ao longo dos anos e “estuprá-los” profissionalmente. Outra coisa ridícula é o tal “serviço civil obrigatório”; 02 anos de serviços prestados pelos médicos recém-formados em Zonas onde o governo julgue necessário com a desculpa de ser um meio para humanizar o médico! Seria menos vergonhoso admitir que o objetivo é levar médico para onde não há; afinal; você pode humanizar o médico em seu próprio local de formação; seria uma questão de readequação de grade curricular e valores ensinados; não digo que seria fácil; mas seria justo. Outra coisa absurda disso é barganhar, dizendo que os dois anos de serviço abrandariam um ano na residência médica do médico; o serviço prestado seria o de medicina preventiva, primário, promoção de saúde nesses dois anos, certo? Embora eu ache isto muito válido, alguém aqui em sã consciência julga que abrandando um ano na residência, o médico sairia um melhor especialista? Mesmo em clínica médica, vocês realmente concordam com isso? Em especialidade mais técnicas, como Otorrino, Oftalmo, Ortopedia, vou nem falar nada...

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  5. A questão de tornar o médico capaz de atender no sertão, “curar lombriga”, promover saúde, etc... etc... etc... sou totalmente a favor; mas não depende só do médico. Nosso problema é cultural. Acham que depende só do médico? É comum os pacientes diabéticos e hipertensos passarem pelo “hiperdia”, onde recebem orientações de hábitos que os beneficiem; mas sabem pq se consegue alguma presença nessas reuniões? Pq a maioria dos PSF amarra a condição de ganharem a medicação gratuitamente se os pacientes forem na reunião. E olha que não é fácil; o paciente malandro aprende que receber sua medicação é um direito assegurado; falta à reunião e depois exige a medicação. Certa vez, enquanto médico de PSF, fui incumbido da responsabilidade de ministrar aula sobre prevenção de DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis); a aula, local e horários foi divulgada nas escolas e casas pertencentes à unidade que atendia por três semanas, existiam, aproximadamente, cerca de 200 a 300 adolescentes na referida região; sabe quantos compareceram? Menos de dez adolescentes. Mesmo levando-se em consideração os que trabalham, os que fazem algum curso, nada justifica uma ausência destas! Insisto, nosso problema é cultural; não é só do médico. Legal, vamos continuar falando sobre prevenção, promoção de saúde e atenção primária; certa vez uma paciente me procurou para emagrecimento, não estava com obesidade tão grave; forneci orientações, gastei tempo com ela; ela disse “Quero remédio”, não prescrevi, enfatizei que deveríamos tentar muita coisa antes disso; encaminhei, também para a nutricionista e solicitei retorno; poucos dias depois recebo um recado da Secretária de Saúde, “Por favor, prescreva a medicação que a paciente pede”. Nosso problema é médico, cultural, político.... Os pacientes lotam os pronto-atendimentos pq não possuem a paciência de esperar uma ou duas semanas uma consulta no PSF para avaliar um problema que ele possui há meses ou anos... Recentemente vi uma reportagem no MGTV, mais uma vez descendo a porrada no médico, criticando que pacientes podem aguardar até quatro horas um atendimento, por causa de um sistema adotado por uma cidade que não recordo-me. Não recordo da palavra da repórter que chamou o âncora; mais foi algo mais ou menos assim: “Quer dizer que os médicos além de atenderem mal querem que a população aguarde até 4 horas para eles atenderem?”. Absurdo! A fala do âncora só confirmou a “indigniação” da repórter, não foi muito além disso. Sabe o que a reportagem (por pessoas formadoras de opinião) estava criticando? O protocolo de Manchester! Poxa, gente! Isso veio para ajudar os pacientes; ele classifica os pacientes segundo sua gravidade; atendendo os casos mais graves na frente dos mais simples; isto é para evitar mortes; acabou o “cheguei primeiro”, isto é para evitar de atender uma “dor de cabeça há 20 dias” na frente de um paciente enfartando.

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  6. Por fim, gostaria de dizer que não há nada mais frustrante do que tratar um paciente que não quer se curar. Vivemos em um país onde os salários são baixos, condições de trabalho são precárias, há trabalhador rural com 50 anos que aparenta 70! Ok, diante de baixa renda, condições rudes de trabalho; os pacientes procuram uma fonte alternativa de renda ou antecipação de aposentadoria: Os pacientes previdenciários; vc pode fazer de tudo; eles não relatam melhora e pedem o “atestado”; a maioria, quando tem um benefício previdenciário concedido, seja um auxílio-doença ou a aposentadoria, continua trabalhando; com o argumento “Como vou viver, doutor”. Gente, isso é um golpe que o paciente dá na Previdência. Muitas vezes sua doença não é incapacitante, mas ele quer que seja e o melhor argumento é “não melhorou nada”. E tem muito advogado estimulando este tipo de atitude, uma vez que, negado várias vezes seu pedido de benefício pelo órgão previdenciário que o rege, o paciente procura o setor judiciário e aí vem, os advogados... Quando se fala em atenção primária, não se fala só de médico não; deveria o Governo intervir; exigir mais fiscalização do Ministério do Trabalho sobre as condições de trabalho de várias profissões; melhorar os salários; diminuir a jornada de trabalho das profissões mais insalubres; facilitar o acesso a uma exame diagnóstico NECESSÁRIO, ao especialista, ao fisioterapeuta, etc... Visando uma cura mais rápida e impedindo que o trabalhador se incapacite? Prevenção e promoção de saúde não é só caso de médico.
    Vai tentar priorizar a atenção primária em um caos desses!
    Tem muita coisa para mudar. Tem que mudar o médico? Tem, tem sim... Mas tem que mudar a cultura da população, o que se ensina em casa e nas escolas, a atitude dos governantes, a conduta dos intelectuais que são formadores de opinião... É muiiiiiiiiiita coisa!
    Ainda estou no solo, após descer de meu “pedestal médico”; não sei se quero subir novamente; acho que o melhor seria não subir... Mas não serei hipócrita, em algum “pedestal médico”, ainda que pequeno, tenho que manter-me; não pq eu me julgue um “Deus”, pelo contrário, nem me considero um profissional acima da média; mas me esforço dentro de minhas limitações para tentar melhorar, sempre. Subo no “pedestal” porque se eu não me defender, quem há de me defender? O Chapolim Colorado? Rs....
    Bom, essa é minha opinião.... Certa ou errada, é o que penso. Abraços.

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  8. Sou médica há 17 anos, me formei na Faculdade de Medicina da UFMG .
    Como acadêmica, atendi em postos de saúde, fiquei 3 meses trabalhando no interior de Minas Gerais, numa cidadezinha sem médicos de 1200 habitantes e toda minha formação foi atendendo na rede pública de saúde. Fiz especialização em hospital público ( HC-UFMG) e considero que conheço bem o SUS e que minha formação foi essencialmente humanista. Mas nem por isso, deixou-se de lado a formação acadêmica científica sólida, o espírito crítico sobre o que lemos e sobre o que nos "vende" a indústria ( o que na minha opinião diferencia um técnico de um bom médico).
    Atrair médicos é importante, mas também me assusta que a competência seja a ultima preocupação de nossos gestores. Vale médicos formados em escolas que jamais teriam condições de serem abertas, médicos de outros países que não são avaliados em seus conhecimentos... mas e daí, importa é fazer número. Também não estou generalizando, certamente deve haver bons profissionais atuando no programa mais médicos, mas se assim o são, não tem porque não serem avaliados.
    Atrair médicos é importante, mas apesar de a GRANDE maioria exercer sua profissão com amor e zelo, dependemos de nossos honorários para vivermos dignamente. Temos família, queremos segurança. Segurança de receber nosso salário o final do mês, de não sermos demitidos a cada troca de prefeitos da cidade, de não ser ameaçado pelo traficante do morro onde está o posto em que atendemos, de termos condições de diagnosticar E tratar nosso paciente, pois se assim não o fizermos somos legalmente responsabilizados. Ou seja queremos o que qualquer pessoa de bem deseja para si mesmo e para o próximo.
    Quando vejo opiniões tão demagógicas sobre a saúde pública no nosso país, sinto a impressão que estão culpando o efeito e não a causa das mazelas.

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  9. Parece que o autor ignora um principio basico da ciencia moderna. Seja mo interior do Brasil ou no interior da França, o médico está trabalhando de acordo com evidencias cientificas. Existem processos bem definidos de propedeutica, diagnostico e terapeutica. Trabalhar no interior nao exclui a necessidade das supostas ressonancias magneticas que o autor menciona. Nao existe essa Medicina romantica de curar sem exames diagnosticos e métodos terapeuticos de alta complexidade.

    Se um médico diagnostica um cancer de pulmao no interior ou na capital as medidas a serem tomadas sao as mesmas. O autor simplesmente quer sugerir que Medicina se faz com boa vontade e nao com métodos científicos. Gostaria de lembrar que nao vivemos no seculo XIX e Medicina nao se faz mais apenas com um estetoscopio. Esse artigo é um retrato social do pensamento do brasileiro.

    Construimos estadios do 'seculo XXI mas ainda temos ao lado de nossos estadios favelas onde parece se viver no seculo XIX, sem esgoto, sem agua tratada. E isso tá tudo bem pro brasileiro. Triste realidade de quem quer comparar o interior da França com o interior do Brasil. O ser humano é tratado com dignidade na França pelo médico e pelo governo. No Brasil essa atitude parece ser apenas do médico porque o governo não se preocupa com vidas e sim com números.

    E que visao ignorante de alguem que acha que dinheiro é o que move a carreira do médico. Como ele mesmo falou um bom proffisional se destaca em qualquer cenario. O bom médico poderia ter sido um bom advogado ou bom engenheiro e ter exatamente a mesma renda independente da profissão escolhida. Se ele escolheu Medicina é pela vontade inata de ajudar outro ser humano e não por simples ganancia.
    Infelizmente tem se pegado imagem de proffisionais ruins, que existem em qualquer profissão, e tentar definir toda uma classe de pessoas dignas que dedicam sua vida a vida de um desconhecido, do seu nascimento ä sua morte.

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    1. Parece que o comentador ignora que o autor está justamente discutindo esse "princípio básico da ciência moderna".

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  10. Olá, concordo, plenamente, com os comentários da Marcela e de Parada Med. Queria dizer, também, que é oportuno e realista o comentário do autor sobre corrupção; há médicos corruptos assim como há outros profissionais, pacientes e muitos... muitos... governantes... Há prefeituras demitindo médicos, ou cidades com abundância de médicos solicitando médicos do "Programa Mais Médicos", visando uma necessidade ou medicina social? Não... Visando diminuir o gasto municipal com saúde. Um outro ítem muitas Prefeituras contratam médicos para o PSF (programa muito lindo no papel...); mas lotam o tempo do médico com um número muito grande de consultas (para atendimento curativo) que impede o profissional de exercer as outras atividades que o profissional deveria realizar segundo o programa: Prevenção e Promoção de Saúde. É como eu disse; é muita coisa para se mudar....

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  11. Bom pessoal, acho que o post já pode ser considerado como satisfatório. Conseguimos instigar reflexões interessantes, e relatos que demonstram o tamanho da encrenca que é se meter em saúde-pública. Agradecemos antes de mais nada a todo os que participaram, e os que ainda vão participar estejam certos: não temos nada contra profissão nenhuma... muito menos médicos! O objetivo desse post específico era o de problematizar o mais médicos como uma política pública, tomada por um Estado tão diverso e controverso como o brasileiro. Como dissemos no post. Não se trata de dizer que o mais médicos está certo ou errado. Apenas de dizer que ele tem fundamentação teórica. Se formos entrar na discussão de certo ou errado, de atitude populista ou eleitoreira não vamos sair do lugar... e essa é a tônica em todas as coisas que já li sobre o assunto. Por isso resolvemos tratar o tema sob um outro ponto de vista. Reafirmamos, o objetivo desse post é o de apresentar alguns elementos históricos que embasam o mais médicos. Se vc concorda ou não com ele, é outra questão. Não dissemos em momento nenhum que ele é perfeito, lindo e maravilhoso. Mas é importante debater o tema com subsídios teóricos. Afinal, são esses subsídios teóricos que nos tornam capazes que questionar certas argumentações comuns aí na mídia como a de que não há nenhum tipo de teste aplicado nesses médicos antes de eles embarcarem pra cá. Inclusive é essa uma das críticas apontadas por vcs. Mas pense: quem faz esses testes? Que modelo de medicina é cobrado nesses testes? O modelo industrial, certo? então, claro, se alguém formado no outro modelo o fizer, sabemos o resultado certo? Percebam, a questão é mais complexa do que afirmar taxativamente que o único culpado é o médico.

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  12. O caráter pessoal dos comentários dos amigos só reforçam a ideia de que a medicina passa por uma crise de identidade, que ao fim e ao cabo é uma crise de formação. Afinal, o médico está começando a ser tratado de acordo com as mesmas regras e normas sociais que já valem pra todos os "mortais" há séculos... O simples fato de haver um "Pedestal" já é a maior prova disso. Meu Xará, eu te compreendo e, como te disse no outro post, respeito demais sua opinião. Tenho certeza absoluta de que vc viveu situações que eu nem imagino... Mas queria chamar a atenção novamente para o fato de que isso acontece com todas as outras profissões. Converse com um professor, cara... com um policial... com um lixeiro... A vida aqui embaixo é dura cara... Acho que a grande questão dessa discussão toda é o fato de que o Pedestal do Médico acabou. Socialmente ele já não é mais reconhecido. Os médicos, a classe, vai continuar fazendo dele seu escudo, mas a sociedade não o reconhece mais. Pelo menos não como foi nas últimas décadas... A grande pergunta é: por quê? O governo FHC, ou Lula, Ou Dilma ou quem quer que fosse não teria o poder de ser sozinho o responsável por isso...
    A nossa função nesse blog, enquanto historiadores, é a de mostrar que esses pedestais são construídos. Podem subir e descer de acordo com preceitos muito peculiares.
    Como professor, hoje, preciso subir nesse pedestal pra falar com médicos. Não foi sempre assim e, sobretudo, não vai ser mais assim em um período curto de tempo, anote o que estou dizendo!
    Enfim, esperamos não ter ofendido ninguém pessoalmente. E como disse anteriormente, considero que o post cumpriu seu objetivo. Não pensem vcs que queremos mostrar - seja com o post seja com esse comentário - que "vencemos" a discussão. Não há vencedores e perdedores nela. O que existe são clamores sociais por uma nova maneira de ver a saúde e a doença. E o médico, queira ou não queira, é o ponta de lança desse jogo. Um ponta de lança que vive um dilema cruel: foi formado por essa concepção de medicina industrial que chamamos a atenção no post... as regras do capitalismo são brutais... não perdoam ninguém... nem os homens de branco... o mesmo capitalismo que produziu essa auréola é o que hoje vai suprimir a profissão médica ao seu lugar de tecnóloga... lei de mercado... The Jungle!...
    Só um último adendo ao que foi levantado pelo amigo Parada Med: o que vc está chamando de "Ciência moderna" é tão somente o que chamamos no texto de medicina industrial. Concordo que resumimos muito o conceito. Afinal, isso é um blog. Mas perceba a dimensão teórica da discussão que estamos tentando levantar aqui!
    No mais, obrigado mesmo pelas participações. São todas bem-vindas demais. Mais uma vez: não estou dizendo isso tudo pra estar certo, ou pra vencer discussão nenhuma! Oxalá consigamos, individualmente, pensar e lutar por uma saúde-pública justa e de qualidade pra todo mundo.
    abs

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    1. Bechler; você não subiu num pedestal para conversar com médicos, está em um desde o primeiro texto e não enxerga ou concorda com isso. Não pedi para descermos deles? E qto aos pedestais não disse eu próprio que o "pedestal médico" está caindo? Meus pais foram trabalhadores rurais antes de virem para a zona urbana. Meu pai foi pedreiro por anos, antes de entrar em sua profissão final; "técnico de anatomia" e ainda manteve-se como pedreiro um bom tempo para complementar renda; eu sei como é a "vida aqui embaixo". E embora não me julgue "por cima"; parafraseando-o, a vida "aqui em cima" também não é fácil; vá para o sertão e tente "curar lombriga" sem remédio ou fazer uma sutura sem fios, ou atender 5 a 10 pacientes por hora e tentar fazer uma medicina descente. Que a medicina siga o curso que você comenta, prevê ou deseja; mas que nos dêem meios para trabalhar nessa nova realidade. E quando esse "justo e almejado" futuro chegar com as inúmeras dificuldades que hão de existir (e isto, eu lhe garanto), continuarão mutilando o médico como o principal responsável? Discordo, mas não dá para separar o lado político e cultural disso. Quanto aos médicos convidados; simples... faça-se uma avaliação priorizando a medicina social, mais justo que não avaliá-los; ainda assim, não é justos isentá-los da responsabilidade de serem avaliados no assim entitulado "modelo industrial"; afinal é inquestionável que eles precisarão de utilizar esse meio, pode ter certeza disso, ainda que não prioritariamente. É muito grande a crítica em cima da figura do médico; sem considerar suas dificuldades. Concordo com você, que a medicina vai mudar. Em sua visão, pelo que entendi, salve-me um erro de interpretação, para um caminho mais "justo" e humanizado. Eu pensaria assim, se dependesse de mudar apenas o médico; mas lance este "novo tecnólogo" no caos atual (político, econômico, cultural, legal, social e apesar de você não considerar importante, de falta de recursos) e veja o que acontecerá. Não serão bons profissionais, em sua grande maioria, que serão atraídos para a profissão de médico, isso, eu garanto. Fica uma sugestão, faça uma pesquisa de campo antes de seu próximo texto, viva em tempo integral, por umas duas semanas, a vida na companhia de um médico do interior, que faça PSF e plantões; vá há algum grande hospital público e siga um especialista em 3 ou 4 plantões, em tempo integral. Esta experiência junto ao seu conhecimento teórico renderia um texto mais real e justo, penso eu. Admiro o desfecho desse seu último comentário; nisso eu concordo, deveríamos, todos nós, pensar juntos, "pensar e lutar por uma saúde-pública justa e de qualidade para todo mundo". As críticas são bem vindas, nos fazem refletir; mas nós médicos não merecemos apenas críticas nem todo o conteúdo dessas críticas; precisamos também de parceiros para tentar ajudar. Abs.

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  13. até que enfim leio algo com substância sobre o assunto. Não vem com essa agora todo médico é filho de pobre não! A casa de vcs tá caindo galera acorda!

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    1. "Anônimo"; o que vou dizer não é para acrescentar mérito, apenas informação; peço que saiba discernir, ok? Estudei em uma faculdade pública, de alto conceito, da qual de orgulho da formação técnica, médico-social e humana que recebi lá. Em uma época que ainda não havia cotas, Enem, etc...(Não estou discutindo se sou contra ou a favor os programas); só para dizer que ninguém entrou a não ser pelo estudo concorrendo um vestibular de mais de 120 c/v. Não estou dizendo que só tenha entrado "gênios", aliás, não me considero nem perto disso, na faculdade inteira, conheci muita gente; cujo potencial humano e/ou técnico ficavam abaixo, igualavam ou acima de quem "ficou de fora", por assim dizer, e foi seguir outra profissão. Teve colega que levou 5 anos para conseguir passar em vestibular dessa natureza, pq era inferior? Não! Aliás, seguramente, estava entre os mais inteligentes de minha turma. Ele trabalhava entrelaçando couro, montando artigos de montaria artesanais, que era o que a família tinha como subsistência e continuou fazendo isso durante toda a sua graduação. Teve aluna que ajudou o sustento da casa com a bolsa do CNPQ (R$ 240,00) na época. Eu não tive "luxos", não estudei em escolas particulares a maior parte da minha vida, mas não tive que trabalhar antes ou durante a graduação, o que, de certa forma, é um "luxo". Para não delongar... É verdade; Nem todo médico é filho de pobre; mas posso afirmar, com propriedade, em uma universidade pública, na realidade de minha época; a maioria se condensava nas classes C e D; uns 20% na B, menos de 10% na A e menos de 10% na E. Se o Governo proporcionasse um ensino básico de qualidade, haveria mais "filhos de pobres" formando-se médicos em escolas públicas. Quanto às escolas particulares, que o Governo tanto defende suas criações, na maioria das vezes sem a menor condição de existirem; sim, nelas, geralmente há mais "ricos" que "pobres". E só para seu conhecimento, hoje há mais "pais pobres" formando seus filhos, médicos, ok? E não é isso que define a pessoa, conheci gente de origem humilde pior que gente de origem "rica". Outra, coisa, "acorda" você, "Anônimo"; entre nós médicos, a maioria de nós tem ciência que a "casa está caindo"; a maioria não concorda com o que o Bechler diz; que cai na direção de uma medicina sólida; pelo contrário, temos muito embasamento para dizer que cai em direção oposta e não é pela queda da nossa assim chamada "Mega-valorização" ou de nosso "Status" é por várias coisas que já foram mencionadas nos textos, por você julgado, "insubstanciais" acima. Ao menos o Autor, do qual não concordo com a metade de suas idéias e eu julgue que ele ignora e/ou não dá relevância a vários pontos na formação de sua opinião; ele, o Bechler baseia-se em estudos para argumentar; posso não concordar, mas, ao menos respeito. E ele pode não concordar, mas, creio que respeita o que lê, mesmo que seja contrário ao que ele pensa. Agora, "Anônimo", vc pode não concordar com muito do que leu das opniões acima; pode julgar parte dos textos médicos como "insubstanciais"; mas comentar "até que enfim leio algo com substância sobre o assunto" é muito exagero.... Para eu não dizer algo que seria tomado como muito mais ofensivo.... Só não digo pq a "baixaria" findaria a discussão, pq não sou "baixo" com quem não é "baixo" comigo e pq, creio, que não é ao que o site se propõe; penso eu...

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  14. Por que é tão difícil médico aceitar que escolheu a profissão mais por causa do dinheiro do que por outra coisa? Não todos, mas a maioria é isso mesmo! Qual o problema nisso? Sou médico e digo mesmo: escolhi ser médico pra ter uma vida digna. Não estou falando que as outras profissões são piores, mas eu percebi que tinha condição de passar no vestibular que quisesse. Pronto, quis fazer medicina porque era o que mais dava dinheiro! Ralei muito pra me formar, e preciso ralar muito pra conseguir mas tenho uma vida boa. Não pode haver problema nisso.

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    1. É verdade o que diz. Concordo. Mas, como diz, trabalhamos muito para isso e nosso conhecimento/técnica deve ser valorizado, inclusive, financeiramente e, em termos relativos, na maioria das vezes, não é tão bem valorizado e é justo sobre não nos desvalorizar como o texto versa, as outras profissões que na maioria são desvalorizadas é que deveriam valorizar-se. Concordo, ganhar dinheiro não pode ser visto como um problema, desde de que de forma lícita, digna e muito trabalhosa como é o caso da maioria de nós de jaleco, caro colega, médico.

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  15. Xará, mais uma vez eu digo que respeito muito sua opinião e, sobretudo, sua experiência. E estou certo de que essa reflexão que vc está fazendo aqui é acompanhada por uma série de outros médicos que não tem tempo ou coragem de fazê-la. Mas digo de novo que o fato de a discussão caminhar pra aspectos pessoais da vida de cada um é um forte indício de que o problema é bem mais complexo...
    Pense comigo: o que te faz pensar que essa hipotética "pesquisa de campo" no cotidiano de um médico vai trazer de mais "brutal" ou "injusto" do que a realidade de qualquer outro profissional? O famigerado pedestal? Acredito sim que vc não faça uso dele. O simples fato de vc estar aqui discutindo isso com um bando de historiadores é a maior prova disso! Mas acreditar que vc não o use não é suficiente pra desacreditar que ele exista! Ele existe, Xará! E, como historiador, tenho o direito e o dever de apontar sua subjetividade e sobretudo a sua fugacidade. Poderia refletir a respeito de outras profissões, outros contextos, outros objetos? Claro! Mas a medicina é meu objeto de pesquisa. Médicos são meus "pacientes" históricos. No nosso consultório as regras são diferentes, menos "objetivas". Os exames e medicamentos que receitamos são da mesma forma bem mais subjetivos. Mas não pense vc que eles são tirados "do nada". Também partem de métodos e técnicas tão datados quanto os de qualquer outra profissão! A grande questão é que nós nos damos conta dessa fugacidade!
    Acho sinceramente que a questão não é complicada: a profissão médica passa por uma crise de identidade, e isso não sou eu nem o Lula ou a Dilma ou nem mesmo o Diogo Mainardi que está dizendo. O mais médicos é apenas mais um indício dessa crise. Não é apenas no Brasil que observamos isso... te digo com certeza! O que procuro fazer aqui no blog é refletir - abertamente e sem qualquer tipo de pré-conceito na acepção do termo - sobre esse tema que é, no fim das contas, o meu tema de pesquisa.
    E reforço que o objetivo desse post era o de apontar elementos teóricos que embasam o mais médicos. Nem entrei em discussões diretas sobre a profissão médica, embora ela permeie indiretamente a discussão.
    As crises, ou processos de transição, são para nós historiadores uma espécie de laboratório... onde podemos experimentar teorias, técnicas e métodos pra validarmos nosso pensamento. E te digo: vc está sendo um paciente dos bons! Por favor, continue participando, cara!! um abraço sincero!

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  16. O pedestal existe e eu nunca neguei a existencia dele e aqui falo do exagerado status social, nao de valirizacao financeira. Nunca desmereci profissão alguma, se bem ler meus textos desde o inicio. A pesquisa de campo mostraria q para aplicar o modelo q propõe, da qual nao sou contra, é preciso mudar muita coisa além do médico. Devemos valorizar melhor as inumeras outras profissões, como a de lixeiro, por exemplo e nao desvalorizar o medico, no lance financeiro, estando em uma sociedade capitalista. Sou a favor da queda do status exagerados, medicos q se acham Deuses e se tornam arrogantes e refratarios a mudança, mas isto não será conseguindo só marretando o médico, assim, perdem o apoio ate dos q simpatizam com suas ideias. Mas para podermos exercer a nossa humanização, já enraizada na formação da grande maioria, precisamos de condições para isso. Uma pesquisa de campo mostraria isso, q não somos contra nos "humanizarmos" mais, mas é dificil no caos q vivemos. Abraço

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  17. Uma pesquisa de campo descente mostraria q a referida "fugacidade" não existe já em uma boa parcela de medicos e q nos que a apresetam, possivelmente, a maioria de nós, a disposição p encarar uma nova realidade cresce, ainda q em passos lentos, até pq, ainda, não está claro, o q desejam de nós nessa nova realidade, uma queda de status? Concordo... Uma desvalorização? Qto à subjetividade, é justo a necessidade acadêmica de evitá-la para não torná-la algo muito grande, complexo e dificil de concluir q dá certa parcialidade ao assunto. Uma pesquisa de campo, não avaliaria só o "pedestal", tornaria mais objetivo e que subjetivamente enumeramos como inúmeros itens q dificultam essa transição ou aplicação de um novo modelo. Não possuo a formação de um pesquisador e, talvez, tenha falhado tecnicamente; mas usando a academica forma correta de aplicabilidade do que eu disse, talvez, tornasse seu trabalho mais rico. Certo ou errado, tentei ajudar. Abraço.

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  18. Outra coisa sobre a pesquisa de campo; sim, mas uma vez enfatizando, vc vai constatar o tal do "pedestal" que já concordamos que existe, ok? Mas não é isto que estou pedindo para avaliar na sua pesquisa de campo, ainda que, quanto ao "pedestal" isto iria fortalecer seu argumento; frente a maioria dos médicos que não vêem problema neste pedestal (aqui defendo a desmistificação de médicos "Deuses"e não sua desvalorização financeira. As dificuldades de cada profissão são, em suma, semelhantes, sim; como você relata mas não possuem o mesmo peso. Mais uma vez, não estou desmerecendo profissão alguma; apenas apontando suas particularidades. Se um pedreiro diz ao patrão que o cimento que usa não presta e o engenheiro insiste no seu uso; o reboco pode rachar e a parede pode trincaria e apesar de o pedreiro já ter previsto isto; o engenheiro, possivelmente, jogaria a culpa no pedreiro; o proprietária concordaria com o engenheiro; falaria mal do pedreiro para muitos. Enfim, nesse ponto, é exatamente como vc defende, o médico e o pedreiro neste caso são iguais; quando o médico, na maioria das vezes no SUS, é obrigado a trabalhar em meios inadequados ou com materiais de qualidade ruim os resultados, por vezes, são tão desastrosos quanto o do pedreiro e o médico, muitas vezes, não tem a opção de não fazer o trabalho, "é o que tem" e é uma situação de emergência. E quem sai como ruim na história para a maioria; para o paciente, para os familiares, para os leigos, muitas vezes para a mídia e até para intelectuais; é o médico; assim como no caso do pedreiro. Sim, tanto o médico quanto o pedreiro viveram uma dificuldade que é comum entre suas profissões e com muitas outras. Mas na hora de pesar os erros; em meses ou anos, ninguém lembrará o nome do pedreiro que cometeu o "erro" que colocaram na exclusividade de sua técnica, certo?. Se o médico aleja ou mata alguém; ele até pode se "safar" de um pedido de indenização ou prisão (como o Autor já mencionou em outra passagem); mas o paciente e os familiares nunca esquecerão o nome desse médico e o culparão pelo seu "erro" pelo resto de suas vidas. As dificuldades das profissões não são 100% as mesmas, nem seus erros são dimensionados da mesma forma. Vc poderia presenciar isso em uma adequada pesquisa de campo. Não sou dono da verdade; não sou contra o que pregam, mas como julgam boa parte das coisas. Boa sorte a todos nós!! Historiadores, médicos, sociedade e críticos!!! Abraço a todos.

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