Tudo bem, todos sabem que a esmagadora maioria dos
historiadores é afeita às famigeradas “teorias da conspiração”. Esforçam-se por
colocar pulgas atrás da orelha de alunos e/ou leitores sobre os temas mais
diversos. Verdade? Aí de quem corrobora com essa invenção positivista, dizem os
mais exaltados. Correntes historiográficas mais ou menos rebuscadas buscaram
espaço acadêmico ao longo do século XX desconstruindo essa Verdade, no
singular. Em seu lugar, buscam verdadeS, com um S maiúsculo no final. Buscam maneiras
de encontrar fontes, vestígios, personagens, etc., que forneçam mais detalhes,
minúcias sobre um fato histórico que, observado de maneira paralela à história
oficial, subsidiará uma análise mais embasada, mais fidedigna possível sobre
aquele fato feita por ele, um cientista dotado de métodos e técnicas da ciência
histórica.
Já abordamos nesse blog as agruras do historiador do futuro.
Sua batalha por fontes vai ser árdua e inglória. Aqui nesse post queremos
abordar a relação da história – ou, no caso, da narrativa histórica – com um
outro assunto, não menos importante, que permeia tanto o ambiente acadêmico
quanto o artístico/cultural no planeta atualmente: a narrativa transmidiática.
Não nos delongaremos muito em explicações sobre o que é
exatamente essa ideia, ou esse modelo de organização do pensamento. Aqui nos
cabe ressaltar apenas que se trata de uma narrativa que se desenvolve por meio
de vários e multifacetados canais midiáticos interligados, que se respeitam
enquanto linguagens distintas e se fundem com o objetivo de construir uma
compreensão mais ampla do universo narrativo. Exemplos de narrativas midiáticas
são vários: se você é fã de alguns seriados americanos mais “antenados”,
possivelmente já se pegou visitando a página da série no facebook pra saber
mais detalhes sobre os personagens, ou, se sua série for totalmente do século
XXI, você pode ter tido acesso, por exemplo, à cena do crime que será exibido
no programa de amanhã em 3D, pra que você procure pistas e/ou indícios que lhe
ajudem a matar a charada antes de seus amigos quando o programa for ao ar
“oficialmente”.
A palavra de ordem é conhecida e ruminada por tudo e todos nos dias atuais: Interação. As “novas mídias” atendem às demandas do público que já não consegue ficar uma hora sentado à frente de uma televisão, assistindo passivamente a qualquer conteúdo, seja ele o melhor conteúdo do mundo! Se você tem filho, irmão, cunhado, vizinho, ou neto adolescente de classe média (que bicho é esse, certo?), certamente já o viu ouvindo música enquanto resolve um exercício de física, assiste futebol na TV do quarto, twitta no tablet e curte a página de Amanhecer no facebook de seu notebook.
A palavra de ordem é conhecida e ruminada por tudo e todos nos dias atuais: Interação. As “novas mídias” atendem às demandas do público que já não consegue ficar uma hora sentado à frente de uma televisão, assistindo passivamente a qualquer conteúdo, seja ele o melhor conteúdo do mundo! Se você tem filho, irmão, cunhado, vizinho, ou neto adolescente de classe média (que bicho é esse, certo?), certamente já o viu ouvindo música enquanto resolve um exercício de física, assiste futebol na TV do quarto, twitta no tablet e curte a página de Amanhecer no facebook de seu notebook.
Pobre do professor de história desse menino – ou menina,
claro – que precisa fazê-lo ficar sentado numa carteira por uma hora,
escutando-o falar sobre um fato histórico monodimensional, ou seja, oficial.
Acabado. Pobre também do historiador “cientista” que vai sentar na frente de
seu computador pra escrever um livro – didático ou não – sobre um tema histórico
qualquer, que tenha mais de cem páginas, e que tente narrar um fato histórico
segundo os moldes tradicionais.
A chance dessa geração se interessar por essa História
monodimensional diminui proporcionalmente ao ouro em Serra Pelada.
Vejamos um exemplo prático: todos acompanhamos o “atentado
terrorista” de Boston recentemente. O espaço aéreo americano foi fechado por
horas, o alerta máximo de segurança foi acionado. O estoque de água e alimentos
teve de ser reforçado em algumas cidades, num enredo conhecido por todos na
terra do Tio Sam dos toc’s psicossociais.
Estereótipos a parte, assistimos à um filme relativamente
conhecido. Um fato aconteceu e foi narrado pelos meios “convencionais” de
informação. TV’s do mundo todo replicavam a transmissão da CNN, replicavam as
informações da CNN: ataque terrorista!
Que fique claro, repudiamos completamente o ato em si!
Horas depois – antes mesmo da prisão dos adolescentes
transviados –, dezenas de blogs, alguns em português como o libertar.in,
começaram a questionar o “ataque”. Mostravam vídeos feitos pelos celulares dos
presentes que mostravam uma realidade diferente da apresentada pela CNN e
espelhada por todo globo terrestre. Teoria da conspiração, dirá você!! E
novamente eu digo: amigo(a), somos historiadores, adoramos isso! Adoramos
quando, por exemplo, um “especialista” mostra que, se uma bomba explode no seu
pé e você perde as pernas com o impacto, seu corpo vai estar coberto de sangue,
o que não é visto nas imagens que correram o mundo do possível atingido pela
bomba terrorista que, aliás é mostrado por outros blogs em fotos, amputado anos
antes da maratona. Isso nos leva ao êxtase!
Mas não porque somos do contra, ou queremos ser os chatos da turma, e sim porque vemos nisso uma verdadeira Primavera Heródica (de Heródoto, pai da história). Finalmente vemos um fato acontecer e ser interpretado multi-midiáticamente, multi-modalmente, ou seja lá o nome que queira dar a isso. Sempre sonhamos com a possibilidade de não nos prendermos à história oficial, de encontramos maneiras de dar voz a um número maior quanto possível de atores que vivenciaram um fato histórico.
Mas não porque somos do contra, ou queremos ser os chatos da turma, e sim porque vemos nisso uma verdadeira Primavera Heródica (de Heródoto, pai da história). Finalmente vemos um fato acontecer e ser interpretado multi-midiáticamente, multi-modalmente, ou seja lá o nome que queira dar a isso. Sempre sonhamos com a possibilidade de não nos prendermos à história oficial, de encontramos maneiras de dar voz a um número maior quanto possível de atores que vivenciaram um fato histórico.
O que nos interessa aqui é apenas constatar que o
historiador que for estudar o “atentado” de Boston em 2049 deve ter essa
possibilidade. Para isso devemos todos, socialmente, lutar. Ele deverá ter
acesso aos vídeos dos celulares, aos blogs que questionam versão apresentada na
CNN, etc.
Pra isso, precisamos instigar a formação de cidadãos
críticos, que não se deem por satisfeitos quando o William Bonner disser “Boa noite”. Precisamos construir uma
narrativa histórica tridimensional, que dialogue com nosso tempo.
Pra isso precisamos nos dar conta da multi-midiaticidade do
discurso histórico que produzimos – ou deveríamos produzir. As mídias, ou se
quiserem: os meios, são muitas(os). O objetivo continua sendo o mesmo: instigar
a construção de um conhecimento histórico ativo, que ajude a formar homens e
mulheres conscientes de que precisam fazer algo a mais do que respirar,
procriar, assistir novela e se embriagar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário