quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Mulher(,) objeto da ciência: a vírgula é opcional


A Folha de São Paulo (27/11/2012) divulgou em sua coluna “equilíbrio e saúde” uma novidade (não tão nova) do ramo da beleza: um 'CHIP' FASHION! Trata-se de um implante de um tubo de silicone com comprimento de um palito de fósforo e com 1 milímetro de diâmetro, contendo uma mistura hormonal que pode variar, mas que, em geral, contém gestrinona e elcometrina, hormônios à base de progesterona. O implante é realizado nas nádegas e leva à redução de apetite, ao bloqueio da menstruação, à redução de cólicas e enxaquecas, entre outros benefícios. O implante, explica a FOLHA, já é largamente utilizado entre modelos no Brasil e no mundo, mas ainda não é aprovado pelas entidades médicas e continua tendo sua comercialização proibida.

Tops models ou cobaias, efeitos colaterais ou benefícios? A mulher deve ser dona de seu corpo, essa foi a principal motivação das revolucionárias pílulas anticoncepcionais. Mas já não é de hoje que essa visão idílica da liberdade do corpo da mulher mudou (posto que algumas coisas não mudaram). A sociedade quer uma mulher que seja dona de seu corpo, e que, de preferência, tenha um belo corpo. Ela deve ser magra, alta, elegante, recatada, bronzeada, usar adereços incômodos e maquiagens, pintar as unhas, fazer depilação com cera, fazer alisamento no cabelo, se submeter a tratamentos estéticos invasivos e arriscados... a lista é longa e vem se expandindo inclusive no mercado voltado ao público masculino. A inteligência, o trabalho, as habilidades desenvolvidas ou o caráter parecem ser opcionais da mulher que, com ou sem pílulas anticoncepcionais, continua sendo tratada como objeto, oprimida pela sociedade e por ela mesma.

A vírgula do título é opcional, mas, numa ciência feita sobretudo por homens, e que é fruto da demanda de uma sociedade machista, ao fim e ao cabo, tanto faz. A ciência que aborda as mulheres como objeto de pesquisa acaba, grande parte das vezes, por tratá-las como mulheres-objeto. Se a sociedade reproduz valores sexistas, a ciência produz, a toque de caixa, pesquisas sobre mulheres para mulheres-objeto.

A equação é fácil: a sociedade demanda, a ciência produz, as agências de modelos financiam o implante e a mídia, intempestiva, divulga: os implantes variam de R$ 700 a R$ 3.000.

Valeriam quanto numa sociedade menos sexista?