Trabalhando na organização e
produção de um café científico, me dei conta de que a vida do historiador
moderno é, de fato, um dejeto insignificante (vulgarmente falando: uma merda!).
Foi-se a época em que
vivíamos felizes visitando arquivos e bibliotecas úmidas atrás de nossas
fontes, com aquele ar de Sherlock Holmes. Não sou dessa geração. Muitas das
fontes que utilizei até hoje estavam digitalizadas, tendo conseguido até mesmo
arquivá-las em um CD, ou em um pen-drive. Engraçado: se estivesse escrevendo
isso há dez anos, teria incluído os sepultados disquetes nessa lista.
Em um café científico, o cientista
discute um tema cotidiano com uma pessoa “não-cientista”. O púbico se diverte
com os embates entre o “catedrático” e o “desletrado intelectual”. Estudos na
área mostram, porém, que a interação entre o público e os entrevistados sempre
foi um desafio, exatamente pelo receio de fazer uma pergunta incompatível a
esses dois mundos aparentemente tão distantes. Pensando nisso, desenvolvemos
uma interação diferente, por meio da tecnologia. Aí começa a história. Aí
começa minha angústia!
Agora
me vejo às voltas com Mac’s, Ipad’s e blu-rays, tendo programadores e gerentes
de projeto como interlocutores acadêmicos. Perdendo o sono com medo do nosso
programa não funcionar na hora do café.
E
acabo me perguntando algumas coisas: será que damos o devido valor para a
informação que produzimos hoje, em outras palavras, para o material de trabalho
do historiador de amanhã? Você já se pegou pensando que vai precisar de um
aparelho pra descompactar arquivos, de senhas pra acessar e-mails dos atores
que serão objeto de suas pesquisas? Suas chances de sucesso serão muito
aumentadas, se você for amigo do pessoal do Google! O historiador ainda vive e
trabalha analógico na era digital! Incongruente, pois para ser historiador hoje
é preciso saber mais do que História, é preciso saber formatar, transferir
arquivos, criar sites, configurar softwares, instalar hardwares e mais o diabo
a quatro!
Minha
angústia aumenta quando penso que devo me preocupar com isso, e percebo que não
terei tempo e paciência, já que preciso (preste atenção no verbo: preciso)
escrever artigos, escrever resenhas, escrever receitas de bolo, escrever bulas
de remédio... para o bem geral do lattesão!
Vivendo entre dois mundos: o da história e o da “ciência” ou, se preferir: o analógico e o
digital, sinto-me num “sem lugar”. Sei apenas que a estrada que caminho hoje está com
seus dias contados. Ah, mas nem tudo está perdido! O tesão pelo conhecimento
não será deletado dos nossos discos rígidos. Vamos continuar querendo saber (d)
as coisas. Não quero precisar de viagra pra produzir conhecimento histórico!
Bora pensar em como lidar com isso??