Já que um blog é uma espécie de diário, vou tomar a
liberdade de chorar pitangas...
Há 20 anos, o que era preciso para se ter um animal
de estimação? Lembro-me de uma senhora que salvou um cachorro dando-lhe angu de
fubá com muxiba e água limpa. Claro, também precisou de um banho, outra
necessidade básica.
The Simon´s Cat |
Hoje, cada vez que preciso levar um dos meus gatos ao
veterinário, tenho que desembolsar uma grana. Fora isso, por mês, os bichinhos comem
dois pacotes de ração, algumas latinhas de petiscos e gastam três sacos de
areia higiênica contra odores. Tudo cientificamente desenvolvido para dar
conforto e saúde aos bichinhos. Resumo da ópera: custa caro e é tarde demais,
eles não gostam de angu e já gostamos demais deles. Daria pra deixá-los mais
soltos, sem tantos mimos, confesso que foi uma escolha: comidinhas saudáveis,
xampu neutro e vermífugo! Se a ciência faz, por que não consumir? Claro, também
daria pra gastar mais: acupuntura, reike, ofurô, shiatsu, mordedor, arranhador,
banho e tosa, ração orgânica sem corantes, ração super Premium embalada a vácuo,
raios-X, ultrassonografia, castração, anticonceptivos, cone para urina, case para transporte, caminhas com erva
de gato, coleiras contra pulgas, novas fórmulas de anti-helmínticos, novos
estudos sobre bolas de pêlos, nova geração de calmantes para controlar latidos...
A lista não tem fim, daria pra gastar muito mais. A ciência tem seu preço, e
como tem.
Há três dias, encontramos um gatinho doente,
possivelmente atropelado, frágil e prostrado. Não fazia nada, apenas estava
vivo, ainda. Seria muito difícil ignorar a situação... Quando chegamos ao
veterinário de plantão, bastou ele bater o olho: “-Internem, está completamente
desidratado. De imediato, vamos dar um banho e colocar no soro. Faremos o possível,
quando estiver melhor, faremos outros exames.” Perguntei se a gatinha
(soubemos, uma fêmea!) sobreviveria ao banho. Com sinal positivo: “-O soro pode
infeccionar, aí piora tudo. Precisa do banho.”
É, pensei, banho é um cuidado básico, como “angu de
fubá com muxiba”.
Confiantes, deixamos a gatinha internada. Pensando
agora, estou achando que a gatinha teria preferido ficar na rua mesmo, no
cantinho confortável que ela tinha escolhido antes de ser levada a um lugar com
cheiro de cachorros, injeções, xampus e banquetes tardios. Talvez tenha sentido
menos dor, talvez tenha ficado mais confortável. Não dá pra saber.
A gatinha morreu, não suportou o básico: o banho!
Não chegou a ter nome, mas talvez fosse Gaia Ciência.
Não chegou a ter nome, mas talvez fosse Gaia Ciência.
Dispensamos o serviço de incineração por R$ 65. Foi enterrada limpa.