sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Pitangas: quanto custa confiar na ciência?


Já que um blog é uma espécie de diário, vou tomar a liberdade de chorar pitangas...

Há 20 anos, o que era preciso para se ter um animal de estimação? Lembro-me de uma senhora que salvou um cachorro dando-lhe angu de fubá com muxiba e água limpa. Claro, também precisou de um banho, outra necessidade básica.

The Simon´s Cat
Hoje, cada vez que preciso levar um dos meus gatos ao veterinário, tenho que desembolsar uma grana. Fora isso, por mês, os bichinhos comem dois pacotes de ração, algumas latinhas de petiscos e gastam três sacos de areia higiênica contra odores. Tudo cientificamente desenvolvido para dar conforto e saúde aos bichinhos. Resumo da ópera: custa caro e é tarde demais, eles não gostam de angu e já gostamos demais deles. Daria pra deixá-los mais soltos, sem tantos mimos, confesso que foi uma escolha: comidinhas saudáveis, xampu neutro e vermífugo! Se a ciência faz, por que não consumir? Claro, também daria pra gastar mais: acupuntura, reike, ofurô, shiatsu, mordedor, arranhador, banho e tosa, ração orgânica sem corantes, ração super Premium embalada a vácuo, raios-X, ultrassonografia, castração, anticonceptivos, cone para urina, case para transporte, caminhas com erva de gato, coleiras contra pulgas, novas fórmulas de anti-helmínticos, novos estudos sobre bolas de pêlos, nova geração de calmantes para controlar latidos... A lista não tem fim, daria pra gastar muito mais. A ciência tem seu preço, e como tem.     

Há três dias, encontramos um gatinho doente, possivelmente atropelado, frágil e prostrado. Não fazia nada, apenas estava vivo, ainda. Seria muito difícil ignorar a situação... Quando chegamos ao veterinário de plantão, bastou ele bater o olho: “-Internem, está completamente desidratado. De imediato, vamos dar um banho e colocar no soro. Faremos o possível, quando estiver melhor, faremos outros exames.” Perguntei se a gatinha (soubemos, uma fêmea!) sobreviveria ao banho. Com sinal positivo: “-O soro pode infeccionar, aí piora tudo. Precisa do banho.”

É, pensei, banho é um cuidado básico, como “angu de fubá com muxiba”.

Confiantes, deixamos a gatinha internada. Pensando agora, estou achando que a gatinha teria preferido ficar na rua mesmo, no cantinho confortável que ela tinha escolhido antes de ser levada a um lugar com cheiro de cachorros, injeções, xampus e banquetes tardios. Talvez tenha sentido menos dor, talvez tenha ficado mais confortável. Não dá pra saber.

A gatinha morreu, não suportou o básico: o banho!      
Não chegou a ter nome, mas talvez fosse Gaia Ciência.
Dispensamos o serviço de incineração por R$ 65. Foi enterrada limpa.