quarta-feira, 27 de junho de 2012
segunda-feira, 18 de junho de 2012
quinta-feira, 14 de junho de 2012
A verdade faz bem pra saúde?
O Ministério da Educação anunciou recentemente a criação de quase três
mil novas vagas em faculdades de medicina em todo Brasil, causando rebuliço na
classe dos discípulos de Hipócrates. Sua idéia é relativamente simples:
aumentando o número de profissionais aumenta-se também a abrangência da
assistência médica aos dela necessitados. Uma mera questão mercadológica de
oferta e procura.
No cerne dessa discussão, que pelo visto ainda será longa, estão uma
série de clichês e estereótipos que precisam ser discutidos na sociedade “democrática”
e “liberal” do século XXI. O “sonho” der ser médico é realmente um sonho
profissional? Quão social – e financeiro – é esse sonho? Vamos deixar o Dimitri nos dizer um pouco mais:
Ao fim e ao cabo, ser médico significa atingir um patamar social e
intelectual singular, logo, um objetivo básico para todo ser fruto da sociedade
de “leões” em que vivemos. Afinal, de duas uma: ou a pessoa é intelectualmente
privilegiada para ser aprovada nos vestibulares mais concorridos das universidades
públicas, ou é financeiramente privilegiada para arcar com as elevadíssimas
mensalidades das instituições privadas que oferecem esse curso. Quem não quer
estar nesses grupos?
Culpa do século XIX, dirão alguns! Sim, no século retrasado a medicina
ganhou um status social nunca antes experimentado, graças a sua aproximação
definitiva para os lados da ciência – vale lembrar que, em outros momentos
históricos, médicos já foram comparados a bruxos, charlatões, etc. Os
impactantes avanços técnicos da época que culminaram na descoberta de agentes
causadores de diversas doenças como a tuberculose, a lepra, a febre amarela,
etc., legaram aos médicos um ar de semideuses. Santa ciência, que conseguia
curar definitivamente males que assombravam gregos e troianos, e que enchia de
esperança os que passavam a enxergá-la como o caminho para a salvação do
homem!!
A partir de então, acelerou-se o processo de elitização da profissão
médica, que já era observado pelo menos desde o final do século XVIII. Com
salutares exceções, apenas filhos de doutores e ricos fazendeiros se
aventuravam pelos caminhos da medicina. Nem de longe é coincidência o fato de
observarmos famílias que são verdadeiras dinastias de médicos e médicas, que
brindam seus pacientes com a oportunidade de serem tratados por mentes tão
brilhantemente lapidadas pela ciência.
Muito bem. Agora observamos um processo de massificação desses
profissionais. Querem formar médicos em cada esquina, dizem uns. Querem tornar
a profissão médica uma outra qualquer, dizem outros. O que estaria por trás
desse medo?
Seria o temor de passarem a ganhar um salário como de um outro tecnólogo
qualquer? Xi, lá vem outra discussão ferrenha. Acreditam alguns que médico não
é um tecnólogo. Ora, senhoras e senhores, o que poderia ser mais técnica do que
a profissão médica? Vale lembrar que alguns filósofos já se aventuraram por
demonstrar isso, como Foucault, Derrida, dentre muitos outros. Quantos males
sociais causam esse pensamento! Especialmente num país continental como o Brasil.
Por acreditarem nisso, nossos governantes até hoje caíram na conversa de
que a medicina deveria ser pra poucos. Que eles deveriam apenas e tão somente
construir uma infraestrutura que proporcionasse ao cientista da vida as
condições de exercer sua profissão abençoada! Como construir essa
infraestrutura, ora bolas? O SUS foi uma tentativa. Todos sabemos o resultado!
A proposta do ministério, abordada anteriormente, de aumentar o contingente de médicos para reduzir, a médio prazo, o custo desses profissionais na
planilha orçamentaria do Sistema Único de Saúde, é vista como temerária por
legar a um segundo plano a construção dessa infraestrutura, evidentemente
necessária para o funcionamento do sistema. Em outras palavras, onde irão
trabalhar esses novos médicos que irão se formar? Ora, o que não faltam são
doentes precisando de médicos nos rincões desse país. Hoje, para se submeterem
a tamanha insalubridade, os médicos exigem a módica quantia de quase vinte mil
reais por mês.
A questão é relativamente simples. Formando mais médicos, reduzir-se-á
essa disparidade. Mas, que fique claro: não temos nada contra médico nenhum!
Pelo contrário! O mundo precisa deles. O Brasil, especialmente, precisa deles!
De médicos, de técnicos em eletrônica, de mecânicos, de pedreiros, de
engenheiros.Até mesmo de professores, quem diria!Mas precisa também de justiça
e condições profissionais minimamente competitivas.
Longe de entrar em questões politicas, a decisão do ministério da
educação vem de encontro com impactantes discussões que ocorrem mundo afora a
esse respeito, e merece respeito. É claro que aumentar o número de médicos,
pura e simplesmente, não vai resolver problema nenhum. É claro que esses novos
cursos devem ser fiscalizados com o máximo rigor, no sentido de formar profissionais
capacitados. O que se exige é o mesmo rigor dado para a medicina para todas as
outras profissões, tão importantes quanto ela. O que se deseja é que a sociedade
reflita sobre os mitos que cria e destrói, que valora e desvaloriza. Deixem o Dimitri estudar em paz!
Garanto uma coisa: a partir do momento em que um médico passar a ganhar
o mesmo tanto que outros tecnólogos, vai ter muita criança mudando de sonho no
meio da noite...
segunda-feira, 11 de junho de 2012
Sustentável inconsistência
Sustentabilidade, the new order!
Sacolas retornáveis, agricultura sustentável, papel reciclado, plástico biodegradável, coleta seletiva de resíduos, pecuária em harmonia com o meio ambiente... Desenvolvimento sustentável! Todos os dias somos bombardeados por sustentabilidades.
O
termo sustentabilidade começou a ser utilizado com maior frequência depois da United
Nations Conference on the Human Environment – UNCHE, em 1972. Uma variação do
termo – desenvolvimento sustentável – também foi discutida no Relatório
Brundtland, em 1987. No Brasil, a onda pegou mesmo depois Conferência sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Eco-92, realizada no Rio de
Janeiro. Foi quando as pesquisas brasileiras na área de Biologia, Ecologia, Engenharia,
Ciências Políticas, História, Administração, e mais uma infinidade de ciências,
passaram a se preocupar com o tema.
Eis
um diagrama explicativo muito útil quando não se quer falar muito para não
correr o risco de “falar demais”:
Pouco mais de 30 anos de idade, e de lá pra cá a sustentabilidade sofreu um boom, virou uma coqueluche midiática, empresarial, política. Hoje, a “coisa toda” está tão moda que é repetida à exaustão. Querem formar novas gerações dentro dessa matriz de pensamento, futuras gerações sustentáveis das quais nós já fazemos parte. Repetir, repetir, repetir, até perder o sentido. A estratégia é essa? Diversas empresas têm explorado recursos naturais sob a “alcunha” da sustentabilidade. A construção da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, por exemplo, realizada pelo consórcio Santo Antônio Energia (em sociedade com a Eletrobrás-Furnas, com a Caixa, com a Odebrecht, com a Andrade Gutierrez, com a Cemig e com o Governo de Minas) na capital do estado de Rondônia, tem causado transtornos a inúmeros beradeiros (ribeirinhos) que tiveram que deixar suas casas sob a ameaçada do “banzeiro” (movimento das águas). São famílias e mais famílias que se deslocam para as já insustentáveis cidades, carentes de infraestrutura e serviços básicos. Pescadores relatam, incessantemente, a gritante e preocupante diminuição do pescado no Rio Madeira, em Rondônia. O complexo histórico “Estrada de Ferro Madeira Mamoré - EFMM”, que vinha sendo recuperado para as comemorações de 100 anos da cidade de Porto Velho, ameaça não suportar o aumento da “maré de má sorte” do Rio Madeira. O problema é tão evidente e eminente que o Iphan de Rondônia pretende solicitar um relatório técnico sobre os impactos citados ao Consórcio Sto. Antônio Energia. Bem, isso para nos limitarmos a alguns dos problemas mais conhecidos... Repetições observadas em Itaipu, em Santo Antônio, em Jirau e, provavelmente, em Belo Monte.
Como fica o meio-ambiente, o social, o tolerável, o justo? É, fica cada vez mais difícil sustentar o discurso da sustentabilidade. E do diagrama acima, parece que resta a visão de “economia viável”, e nada mais. Eco-ingenuidade? Ora, as empresas respondem às necessidades do mercado, buscavam novos investimentos, novas fontes de fornecimento de energia. São nossas demandas, da nossa sociedade. Mas o que nós, pesquisadores, cientistas, intelectuais, temos feito do conceito “sustentabilidade”? Se esse e os demais “eco-conceitos” servem para classificar a ação das empresas – como o “prêmio” de pior empresa com atuação social e ambiental da Vale no Fórum Econômico Mundial de Davos, 2012 – tanto melhor. Mas, se os eco-conceitos servem para mascarar a realidade, para amenizar impactos sociais, para convencer a opinião pública, para solicitar isenção de impostos ou para permitir novas formas de exploração ditas “limpas”, podemos optar pela recusa desse desserviço. E mais, podemos e devemos discutir o que vem sendo feito sob a proteção do título “desenvolvimento sustentável”. Afinal, até quando criaremos eco-conceitos para sustentar a flexibilidade moral do que chamamos de desenvolvimento?
Vinte anos depois da Eco-92 e passadas poucas semanas da mal digerida aprovação do Novo Código Florestal (coincidência?), o que esperar da Rio+20??? Como levá-la a sério? Como avaliá-la?
Desenvolvimento sustentável para quem?
segunda-feira, 4 de junho de 2012
O Fantasma nosso de cada dia
A imagem da intolerância, da alienação, do poder intelectual, ou da falta dele, já foi essa:
Hoje, a imagem seria mais próxima disso:
Diferentes
contextos de proibição!
No meio acadêmico, nós, estudantes de Pós-Graduação, pesquisadores e cientistas financiados pelo Estado (seja por meio de bolsas de pesquisa ou por meio de ensino gratuito e, é preciso dizer, de qualidade), produzimos conhecimento: como dissertações e teses. Desde a Portaria n°13 de 2006, a Capes obriga que os Programas de Pós-Graduação divulguem em página própria ou NO DOMÍNIO PÚBLICO, as dissertações e teses de seus discentes. Que maravilha, que belíssima iniciativa: divulgar o conhecimento! Permitir o livre acesso! Se o conhecimento não é feito em torres de marfins, por que raios ele deveria se esconder lá? Não há inquisições, não há associações repressoras nem mecanismos de censura (
Mas nem tudo são flores...
Alguns
pós-graduandos defendem suas pesquisas em “memoráveis” bancas e ... PUBLICAM seus trabalhos. Transformam
sua dissertação ou sua tese em livro. Concordo que sejam publicados, divulgados...
Bravo²! São textos autorais (o que é autoria?), escrito pelos
pesquisadores, não são? Pois bem, que publiquem.
(Fonte da imagem)
Há poucos meses, Dr. X se recusou a divulgar sua tese de doutorado, defendida antes da portaria n°13 de 2006. “Não posso disponibilizar a você, a tese está em processo de edição para ser publicada em livro, não quero futuros problemas de plágios!” Para além dos óbvios motivos que alimentam a vaidade dos professores, doutores, intelectuais brasileiros, o que a fala do Dr. X indica? Uma tese, que é fruto de um doutoramento financiado pelo ESTADO BRASILEIRO, pago com os meus, com os seus impostos, pode ser de direito de divulgação EXCLUSIVO do autor? - Pode! Há uma data na determinação da CAPES (2006), mas por quê? E antes disso? Por que eu – pós-graduanda, pesquisadora financiada pelo Estado – devo disponibilizar meu trabalho, e o Dr. X pode guardá-lo, vendê-lo? Estranha equação! Esse trabalho não deveria estar digitalizado, não deveria ser de livre acesso, tal como os trabalhos posteriores a 2006? E o mais importante, o pesquisador não deveria facilitar o acesso? A política de divulgação dos trabalhos de pós-graduação não deveria estar introjetada nas mentalidades acadêmicas?
Há poucos meses, Dr. X se recusou a divulgar sua tese de doutorado, defendida antes da portaria n°13 de 2006. “Não posso disponibilizar a você, a tese está em processo de edição para ser publicada em livro, não quero futuros problemas de plágios!” Para além dos óbvios motivos que alimentam a vaidade dos professores, doutores, intelectuais brasileiros, o que a fala do Dr. X indica? Uma tese, que é fruto de um doutoramento financiado pelo ESTADO BRASILEIRO, pago com os meus, com os seus impostos, pode ser de direito de divulgação EXCLUSIVO do autor? - Pode! Há uma data na determinação da CAPES (2006), mas por quê? E antes disso? Por que eu – pós-graduanda, pesquisadora financiada pelo Estado – devo disponibilizar meu trabalho, e o Dr. X pode guardá-lo, vendê-lo? Estranha equação! Esse trabalho não deveria estar digitalizado, não deveria ser de livre acesso, tal como os trabalhos posteriores a 2006? E o mais importante, o pesquisador não deveria facilitar o acesso? A política de divulgação dos trabalhos de pós-graduação não deveria estar introjetada nas mentalidades acadêmicas?
Ora,
seria preciso explicar ao Dr. X que a
mídia eletrônica não equivale e não concorre com o papel. Se eu gosto de seu
trabalho, Dr. X, estando ele no meu
pendrive ou no DOMÍNIO PÚBLICO, certamente irei adorar a oportunidade de
comprá-lo quando for publicado em livro, não é? Mas caro Dr. X, frente sua vaidade intelectual, talvez eu prefira mesmo buscar
outros textos para ler, baixar, comprar, digerir, regurgitar. Antropofagia sim,
plágio não! Mal próprio da autoria (leia-se o seu
maior “bem”), hão de existir dezenas de outros trabalhos semelhantes, canibalizáveis...
Dr. X, o que não “roda”, não é
conhecido, não é conhecimento. (Esse sim, um Mal).
Menos
vaidade, mais conhecimento e liberdade. #FreeLivrosdeHumanas
E
para quem tem medo de assombração: - Buuuuuuh!!!
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