segunda-feira, 4 de junho de 2012

O Fantasma nosso de cada dia


A imagem da intolerância, da alienação, do poder intelectual, ou da falta dele, já foi essa:
 

 Hoje, a imagem seria  mais próxima disso:
Imagens de dois contextos completamente distintos. No primeiro, livros proibidos são queimados e bestas festejam no entorno de uma enorme fogueira. No segundo: mensagem de acesso negado, conteúdo virtual bloqueado. 

Diferentes contextos de proibição!

No meio acadêmico, nós, estudantes de Pós-Graduação, pesquisadores e cientistas financiados pelo Estado (seja por meio de bolsas de pesquisa ou por meio de ensino gratuito e, é preciso dizer, de qualidade), produzimos conhecimento: como dissertações e teses. Desde a Portaria n°13 de 2006, a Capes obriga que os Programas de Pós-Graduação divulguem em página própria ou NO DOMÍNIO PÚBLICO, as dissertações e teses de seus discentes. Que maravilha, que belíssima iniciativa: divulgar o conhecimento! Permitir o livre acesso! Se o conhecimento não é feito em torres de marfins, por que raios ele deveria se esconder lá? Não há inquisições, não há associações repressoras nem mecanismos de censura (ou há?), então, que o conhecimento esteja disponível?Bravo!

Mas nem tudo são flores...
Alguns pós-graduandos defendem suas pesquisas em “memoráveis” bancas e ... PUBLICAM seus trabalhos. Transformam sua dissertação ou sua tese em livro. Concordo que sejam publicados, divulgados... Bravo²! São textos autorais (o que é autoria?), escrito pelos pesquisadores, não são? Pois bem, que publiquem.
(Fonte da imagem)

Há poucos meses, Dr. X se recusou a divulgar sua tese de doutorado, defendida antes da portaria n°13 de 2006. “Não posso disponibilizar a você, a tese está em processo de edição para ser publicada em livro, não quero futuros problemas de plágios!” Para além dos óbvios motivos que alimentam a vaidade dos professores, doutores, intelectuais brasileiros, o que a fala do Dr. X indica? Uma tese, que é fruto de um doutoramento financiado pelo ESTADO BRASILEIRO, pago com os meus, com os seus impostos, pode ser de direito de divulgação EXCLUSIVO do autor? - Pode! Há uma data na determinação da CAPES (2006), mas por quê? E antes disso? Por que eu – pós-graduanda, pesquisadora financiada pelo Estado – devo disponibilizar meu trabalho, e o Dr. X pode guardá-lo, vendê-lo? Estranha equação! Esse trabalho não deveria estar digitalizado, não deveria ser de livre acesso, tal como os trabalhos posteriores a 2006? E o mais importante, o pesquisador não deveria facilitar o acesso? A política de divulgação dos trabalhos de pós-graduação não deveria estar introjetada nas mentalidades acadêmicas?
Ora, seria preciso explicar ao Dr. X que a mídia eletrônica não equivale e não concorre com o papel. Se eu gosto de seu trabalho, Dr. X, estando ele no meu pendrive ou no DOMÍNIO PÚBLICO, certamente irei adorar a oportunidade de comprá-lo quando for publicado em livro, não é? Mas caro Dr. X, frente sua vaidade intelectual, talvez eu prefira mesmo buscar outros textos para ler, baixar, comprar, digerir, regurgitar. Antropofagia sim, plágio não! Mal próprio da autoria (leia-se o seu maior “bem”), hão de existir dezenas de outros trabalhos semelhantes, canibalizáveis... Dr. X, o que não “roda”, não é conhecido, não é conhecimento. (Esse sim, um Mal).                                                     
(Fonte da imagem)        
    Para além da academia e ainda sobre ela, a relação entre direito autoral e liberdade de acesso tem criado uma verdadeira caça às bruxas, e por que não dizer à PIRATARIA VIRTUAL? Quem tem medo desse fantasma pirata? Editoras? Autores? Estudantes? Os cantores não vivem apenas da venda de seus discos, mas também dos shows que fazem. (aliás, uma possível visão de Caetano Veloso sobre o tema está disponível aqui) Estabelecer uma nova funcionalidade para as “bibliotecas virtuais” não estaria na ordem do dia? Há muito para ser discutido entre os direitos autorais e a liberdade de acesso. Que melhor momento para se pensar isso do que este, a semana em que se discute o Marco Civil da Internet, em meio aos SOPA´s e PIPA´s do mundo afora? Que tirem as bibliotecas do ar, que fechem os Megauploads, que processem os PiratasBays e que notifiquem os LivrosdeHumanas´s... Saibam, Doutores X´s, a história tem mostrado que eles – os fantasmas piratas – sempre voltam, pelo simples motivo que o conhecimento encontrará outros caminhos de se fazer conhecido.

Menos vaidade, mais conhecimento e liberdade.  #FreeLivrosdeHumanas
E para quem tem medo de assombração: - Buuuuuuh!!!

Um comentário:

  1. Aos autores do blog, parabéns pela iniciativa!
    Gostei muito da publicação. Boa sorte nessa caminhada.

    Fran, bjs

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